CPI do BNDES: ex-ministro Miguel Jorge defende Lula por suposto lobby

Em depoimento à CPI do BNDES, o ex-ministro Miguel Jorge, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, apoiou o ex-presidente Lula por supostamente ter feito lobby para empreiteiras brasileiras no exterior.

A suspeita de lobby surgiu a partir de um e-mail descoberto pela Operação Lava Jato em que Miguel Jorge admite que Lula fez lobby para que a Odebrecht ganhasse uma concorrência para a construção de uma hidrelétrica na Namíbia.

Segundo o ex-ministro, a iniciativa não tem nada de ilegal e todos os governos promovem empresas de seus países no exterior.

Ele deu como exemplo um caso relatado a ele pelo ex-presidente Itamar Franco, que disse ter sido pressionado pelo presidente americano Bill Clinton para fechar um contrato com uma empresa daquele país.

"Nós estávamos numa concorrência muito acirrada pra ver quem forneceria os equipamentos para o Sivam, do Sistema de Vigilância da Amazônia, e o presidente Itamar disse: o presidente Clinton me ligou duas vezes e nas duas vezes ele disse 'presidente, estou ligando para você porque estou defendendo 30 mil empregos americanos. O presidente Clinton seria acusado de fazer lobby? Não pode ser acusado de fazer lobby"

Miguel Jorge também defendeu a política de formação de empresas "campeãs nacionais" por meio de financiamentos do BNDES.

Nos últimos doze anos, o banco financiou a expansão de empresas brasileiras com atuação internacional, como a Odebrecht, o grupo JBS Friboi e as empresas do grupo OGX, de Eike Batista.

Segundo o ex-ministro, é importante o país ter empresas multinacionais para competir no mercado global.

Miguel Jorge foi convocado pela CPI a pedido do deputado Carlos Melles (DEM-MG).

O deputado disse que não ficou convencido da lisura do lobby feito por Lula a favor da Odebrecht, que depois contratou o ex-presidente como palestrante.

Segundo o deputado, os empréstimos do BNDES ocorridos nos governos Lula e Dilma Rousseff favoreceram empresas que depois fizeram contribuições de campanha para aliados do governo.

"Eu, além de financiar, eu entro de sócio no negócio e depois o dono do negócio financia a campanha política. Quer dizer, se não é ilegal pelo menos é amoral."

Já o deputado Carlos Zarattini (PT-SP) defendeu Lula e a política de financiamento do BNDES, que, segundo ele, é feita de maneira técnica.

"O banco, absolutamente, não politiza nada. Todos os empréstimos, financiamentos, participações, são feitos com critérios técnicos. Quanto a essa questão de lobby do presidente da República, isso é querer que o presidente da República fique no seu cantinho e não defenda o Brasil."

No depoimento, o ex-ministro Miguel Jorge defendeu os empréstimos de 700 milhões de dólares a Cuba para a construção do porto de Muriel e disse que ele, como ministro, não tinha ingerência sobre a aprovação das operações.

Mas Miguel Jorge ficou de esclarecer à CPI episódio relatado em um documento interno do Itamaraty, apresentado pelo deputado Alexandre Baldy (PSDB-GO).

Segundo o documento, Miguel Jorge garantiu a autoridades cubanas o financiamento do empreendimento, mesmo antes de o dinheiro ser aprovado pelo BNDES.

Reportagem - Antonio Vital